SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ EM IMUNOSSUPRIMIDO APÓS CO-INFECÇÃO POR ARBOVIRUS: UM RELATO DE CASO

GUILLAIN-BARRÉ SYNDROME IN IMUNOSSUPRIMIDO APÓS CO-INFECÇÃO BY ARBOVIRUS: A CASE REPORT

SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ EM IMUNOSSUPRIMIDO APÓS CO-INFECÇÃO POR ARBOVIRUS: UM RELATO DE CASO

AUTORES:

Paula Socorro Nunes Chiarini - Graduanda em enfermagem no Centro Universitário Nilton Lins –
UNINILTONLINS.ORCID: 0009-0007-4397-0532

Maria Jucilene Ferreira da Silva - Graduanda em enfermagem no Centro Universitário Nilton Lins –
UNINILTONLINS. ORCID: 0009-0002-8515-3876

Tadeu Antônio Ferreira dos Santos - Graduando em enfermagem pelo Centro Universitário Nilton Lins –
UNINILTONLINS. ORCID: 0009-0007-8396-9210

Antônia de Souza Tavares - Enfermeira especialista, graduada no Centro Universitário Nilton Lins –
UNINILTONLINS. ORCID: 0000-0003-2729-1437

Verônica Vasconcelos da Silva -Enfermeira especialista graduada no Centro Universitário Nilton Lins –
UNINILTONLINS. ORCID: 0000-0001-5592-7629

Raynara Karen de Sousa Silva - Enfermeira especialista atuando no Instituto de Enfermeiros Intensivista do Amazonas Ltda-IETI. ORCID: 0000-0002-6771-0790

Francisca Raquelle Taumaturgo da Silva - Graduanda em enfermagem no Centro Universitário Nilton Lins – UNINILTONLINS. ORCID: 0009-0001-4802-7160

Jessica Carvalho Santos - Graduanda em enfermagem no Centro Universitário Nilton Lins – UNINILTONLINS. ORCID: 0000-0003-2223-8098

Marleson Farias Viana - Enfermeiro assistencial na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado. ORCID: 0000-0003-0318-9710

Arimatéia Portela de Azevedo - Enfermeiro Mestre – Assistencial na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado. ORCID: 0000-0002-9250-1165

RESUMO

Introdução: A síndrome de Guillain-Barré (SGB) tem caráter auto- imune e é provocada por uma resposta inadequada do organismo a um processo infeccioso, seja por vírus, bactérias ou fungos. Objetivo: Fazer relato de um caso de paciente imunossuprimido por HIV que desenvolveu a síndrome de Guillain-Barré após infecção por arbovirose. Metodologia: Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo com abordagem quantitativa. Estudo de caso: Paciente, gênero masculino, 30 anos, portador do vírus HIV, com quadro de febre intensa, cefaleia e diminuição de força em membros inferiores ascendendo de forma podo-cranial, atualmente com perda de força (grau 3), paresia presente até o nível subcostal acima da linha umbilical (à nível de T8), e hiperflexia patelar e déficit de deglutição.  O mesmo portava um exame sorológico para dengue com resultado de IgG positivo. Após recebimento de resultado do exame de líquor, viu-se que se tratava da Síndrome de Guillain-Barré causada por infecção por arbovírus. Dias depois foi realizada sorologia para Citomegalovirus-CMV o qual deu positiva. Aberto investigação para averiguar o acometimento neurológico. Paciente apresentou convulsão tônico-clônica e foi transferido para UTI por iminência do comprometimento respiratório. Após longo período na UTI, foi encaminhado para enfermaria para continuidade da assistência e cuidados. Por ser um paciente de longa permanência em ambiente hospitalar, adquiriu infecções nosocomiais de repetição por Staphylococcus epidermidis, Klebisiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa e outros. Tais agravantes, juntamente com o quadro clinico causado pela infecção da arbovirose e a Síndrome de Guillain-Barré e a Citomegalovirose deu início a um quadro de taquicardia, hipotensão, dessaturação evoluindo com hipotensão refratária a volume e paradas cardiorrespiratórias -PCR não revertida. Conclusão: Pacientes imunossuprimidos, de longa permanência em ambiente hospitalar,  geralmente evolui para o aparecimento de infecções relacionadas a assistência à saúde e isso pode ser um fator predisponente no aumento dos casos de óbitos.

Palavras-chave: Infectologia, Imunossupressão, síndrome de Guillain-Barré, Neuropatia Autoimune Aguda.

ABSTRACT

Introduction: Guillain-Barré syndrome (GBS) is autoimmune and is caused by an inadequate response of the body to an infectious process, such as viruses, bacteria or fungi. Objective: To report a case of a patient immunosuppressed by HIV who developed Guillain-Barré syndrome after infection by arbovirose. Methodology: This is a retrospective, descriptive study with a quantitative approach. Case study: Patient, male, 30 years old, carrier of the HIV virus, with severe fever, headache and decreased strength in the lower limbs ascending in a podo-cranial manner, currently with loss of strength (grade 3), present paresis ate the subcostal level above the umbilical line (at the level of T8), and patellar hyperflexia and swallowing deficit. He also carried out a serological test for dengue with a positive IgG result. After receiving the results of the liquid test, it is known that it is Guillain-Barré Syndrome caused by arbovirus infection. Days later, a cytomegalovirus-CMV test was performed, which was positive. Open investigation to find out the neurological attack. Patient had a tonic-clonic seizure and was transferred to ICU due to imminent respiratory compromise. After a long period in the ICU, he was referred to the infirmary for continuity of assistance and care. Because he was a long-term patient in a hospital environment, he acquired repeated nosocomial infections due to Staphylococcus epidermidis, Klebisiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa and others. These aggravating factors, together with the clinical picture caused by arbovirus infection and Guillain-Barré Syndrome and Cytomegalovirose from its onset to a picture of tachycardia, hypotension, desaturation evolving with volume-refractory hypotension and cardiorespiratory arrests - CRP not reversed. Conclusion: Immunosuppressed patients, with long stay in a hospital environment, generally evolve for the appearance of infections related to health care and this may be a predisposing factor that does not increase two cases of deaths.

Key words: Infectology, Immunosuppression, Guillain-Barré syndrome, Acute Autoimmune Neuropathy.

RESUMEN

Introducción: El síndrome de Guillain-Barré (SGB) tiene carácter autoinmune y es provocado por una respuesta inadecuada del organismo a un proceso infeccioso, infectado por virus, bacterias u hongos. Objetivo: Fazer relato de un caso de paciente imunosuprimido por VIH que desarrolló un síndrome de Guillain-Barré após infección por arbovirosis. Metodologia: Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo com abordagem quantitativa. Estudio de caso: Paciente, género masculino, 30 años, portador del virus VIH, con cuadro de fiebre intensa, cefalea y disminución de fuerza en miembros inferiores ascendentes de forma podocraneal, actualmente con pérdida de fuerza (grado 3), paresia presente. Até o nivel subcostal acima da linha umbilical (à nivel de T8), e hiperflexia patelar y déficit de deglución. O mesmo portava um examen sorológico para dengue con resultado de IgG positivo. Después de recibir el resultado del examen de licor, se trata del síndrome de Guillain-Barré causado por infección por arbovirus. Dias depois foi realizada sorologia para Citomegalovirus-CMV o qual deu positiva. Aberto investigação para averiguar o acometimento neurológico. Paciente presenta convulsiones tónicas clónicas y transferencias de ITU por imminencia del compromiso respiratorio. Después de un largo período en la UTI, foi encaminhado para enfermar para la continuidad de la asistencia y los cuidados. Por ser un paciente de larga permanencia en ambiente hospitalario, adquiere infecciones nosocomiales de repetición por Staphylococcus epidermidis, Klebisiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa y otros. Estos agravantes, junto con el cuadro clínico causado por la infección por arbovirose y el síndrome de Guillain-Barré y la citomegalovirose desde el inicio, a un cuadro de taquicardia, hipotensión, dessaturación evolucionando con hipotensión refractaria al volumen y paradas cardiorrespiratorias -PCR no revertida. Conclusión: Pacientes imunossuprimidos, de larga permanencia en ambiente hospitalario, generalmente evolucionan para la aparición de infecciones relacionadas con la asistencia sanitaria y esto puede ser un factor predisponente sin aumento de casos de óbitos.

Palavras-chave: Infectología, Imunossupresión, síndrome de Guillain-Barré, Neuropatia Autoimune Aguda.​

RECEBIDO: 07/08/2023  APROVADO: 13/10/2023

TIPO DE ARTIGO: Relato de Caso

INTRODUÃO

A síndrome de Guillain-Barré (SGB) é descrita como sendo uma paralisia arrefléxica associada ao aumento do líquido cefalorraquidiano com uma contagem normal nos números de células. Tem caráter auto- imune provocada por uma resposta inadequada do organismo a um processo infeccioso, seja por vírus, bactérias ou fungos1.

Essa doença pode chegar à máxima severidade em até quatro semanas, com o desenvolvimento de insuficiência respiratória em aproximadamente 25% dos casos. Destes, a maioria tem completa recuperação. Entretanto, podem ocorrer sequelas graves e óbitos em até 20% e 5% dos casos, respectivamente2.

Constitui uma das formas mais frequentes de neuropatia, sendo ela a que apresenta evolução mais rápida sendo potencialmente fatal tornado a primeira causa de paralisia flácida após a erradicação da poliomielite3.

A síndrome começou a ser observada no século XIX, porém, devido à escassez do conhecimento a respeito do sistema nervoso periférico,  não  se  sabia  muito  a  respeito da síndrome  que  causava  enrijecimento  associado  a  uma  fraqueza  que  evoluía  em  um  período  curto,  e  se seguia de uma recuperação espontânea4.

Precisamente em 1916 que Georges Guillain, J. A. Barre e A. Strohi descreveram em soldados do exército francês uma síndrome similar à paralisia de Landry. No entanto, a síndrome por eles descrita caracterizava-se por uma paralisia aguda com perda dos reflexos osteotendinosos, e esta foi a primeira vez em que foi relatada e descrita a ocorrência da dissociação albumino-citológica no líquido cefalorraquidiano (LCR) de pacientes com Guillain-Barré 5, 25.

Sabe-se que esses pacientes possuem uma fraqueza muscular progressiva e ascendente, e tal fato contribui para que muitos deles permaneçam em unidades de terapia intensiva, na maioria das vezes imobilizados durante o período de evolução da doença.  Essa imobilidade contribui para que o paciente adquira sequelas, que se não tratadas de maneira precoce podem tornar-se irreversíveis6, 26.

A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma enfermidade que ocorre no mundo todo e afeta diferentes grupos sociais e pessoas entre 20 e 40 anos. A doença atinge homens e mulheres em todo o mundo, contudo, há um predomínio em maior escala em homens mais velhos. A incidência mundial de casos varia de 1 a 4 casos por 100 mil habitantes/ano7.

Após a eliminação da poliomielite, a síndrome de Guillain-Barré -SGB tornou- -se a maior causa de paralisia flácida no mundo, representando um grave problema de Saúde Pública cuja incidência pode variar de 0,4 a 4 casos/100 mil habitantes em diferentes regiões do mundo8.

Na maior parte dos acometidos é relatado a presença de infecções do trato respiratório superior ou diarreia causadas por vírus. Os principais agentes etiológicos associados são Campylobacter jejuni em até 30% dos casos e Citomegalovírus em até 10% dos casos 9.

Em 2015, houve três arbovírus de elevada incidência no Brasil com concentração urbana, sendo: Dengue, Chikungunya e Zika. Consequentemente, no ano de 2016, pode-se notar um aumento no número de casos de síndromes neurológicas com registro prévio de doença febril provocada pelas infecções por arbovírus. Os casos de Síndrome de Guillain-Barré após processos infecciosos tem sido cada vez mais relatados na literatura e são, normalmente, associados a infecções por vírus Influenza, vírus Epstein-Barr, HIV, pneumonias, entre outras doenças10.

A síndrome de Guillain-Barré-SGB nos indivíduos com o vírus HIV ocorre através de dois mecanismos, na infecção viral primaria que ocorre logo após a exposição ao vírus ou no início da terapia antirretroviral, conhecida como síndrome da reconstituição imune11

A apresentação clínica da SGB se dá pela perda progressiva da força muscular de forma ascendente, com evolução em semanas, pode ocorrer alteração na sensibilidade, paralisia dos nervos cranianos e oftalmoplegia e 30% dos casos possui a necessidade de ventilação mecânica12.

Alguns anos atrás, com a confirmação da circulação do vírus Zika na região Nordeste, o Ministério da Saúde foi notificado sobre o aumento de internações por manifestações neurológicas no estado de Pernambuco, incluindo encefalites, neurite óptica, mielites, encefalomielites e SGB; esta última representava mais de 80% dos casos13.

Considera-se a Dengue a mais importante dentre as arboviroses em termos de morbidade e mortalidade, sendo um grave problema de saúde pública em todo o mundo. É causada por arbovírus, da família Flaviviridae e transmitida por duas espécies de mosquitos Aedes aegypti e A. albopictus14.

A infecção pode ser assintomática ou apresentar-se com febre associada a cefaleia, dor retro-orbitária ou ocular, mialgia, dor óssea, artralgia, manifestações hemorrágicas e cutâneas e leucopenia15.

Além daconvalescência causada pelo quadro clínico descrito, o vírus da dengue pode desenvolver manifestações neurológicas após melhora do quadro agudo como: encefalite, mielite, mononeuropatias, encefalomielite disseminada aguda e a Síndrome de Guillain-Barré (SGB)16.

Portanto, o objetivo principal deste estudo é fazer relato de um caso de paciente imunossuprimido por HIV que desenvolveu a síndrome de Guillain-Barré.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo com abordagem quantitativa, tipo relato de caso de um paciente do genêro maculino, 28 anos, portador do vírus HIV que desenvolveu a síndrome de Guillain- Barré após infecção por arbovirose. Só foram úteis para estudos informações existentes no prontuário eletrônico  referente a este único paciente e que sejam informações alusivas ao período da última internação. 

A pesquisa só teve início após a apreciação ético como determina a 466/12 e suas complementares sob o CAAE 5393323.3.0000.0005 e número de parecer: 6.501.051 e assinatura da carta de anuência pelo diretor e a assinatura do TCUD pelos pesquisadores.

O local onde ocorreu este estudo é um hospital universitário, terciário, referência em doenças infectocontagiosas, no Amazonas

 ESTUDO DE CASO

Paciente AMP, 30 anos, portador do vírus HIV, acamado, deu entrada no pronto atendimento do hospital referência para infectologia do Amazonas encaminhado do Hospital do Município de Presidente Figueiredo (Amazonas), com suspeita de Citomegalovirus-CMV, com quadro de febre intensa, cefaléia e calafrios, sendo diagnosticado, no hospital de origem, com infecção do trato urinário-ITU alta onde recebeu antibióticoterapia.

No exame físico o mesmo iniciou apresentou diminuição de força em Membros inferiores-MMII ascendendo de forma podo-cranial, atualmente com perda de força (grau 3), paresia presente até o nível subcostal acima da linha umbilical (à nível de T8), e hiperflexia patelar. Há cerca de um dia vem apresentando déficit de deglutição.  Concomitante a essa paresia surgiu o quadro de retenção urinária e por esse motivo foi realizada sondagem para alívio no hospital de origem, dada a dor. Apresentando ainda bexiga neurogênica com necessidade de sondagem vesical de demora.

Paciente também desenvolveu quadro febril com calafrios e síndrome neurologia a esclarecer. Foi realizada gota espessa para Malária com resultado negativo.

Também foi também solicitado exame sorológico para dengue o qual veio com resultado de IgG positivo, ou seja, o mesmo estava na fase crônica e/ou convalescente ou já teve contato com a doença em algum momento da vida.

Em virtude do aparecimento da parestesia de membros inferiores, foi realizada sorologia para Citomegalovirus-CMV o qual deu positiva. Aberto investigação para averiguar o acometimento neurológico por CMV ou outro vírus da família Herpesviridae.

Ao exame dos pares cranianos, especificamente o oculomotor o mesmo apresenta reflexo pupilar direto e consensual lentificados. Trigêmeo: rigidez de mandíbula por hipertonia de masseter. Reflexo coclear presente. Demais pares não avaliados devido a hipertonia. Motricidade: Presença de rigidez no hemicorpo direito e esquerdo (D e E) com hipertonia e atrofia muscular global. Testado reflexo biciptal, patelar e braquirradial, todos ausentes ao exame. Demais não testados devido ao estado de hipertonia. Extremidades sem edemas, com membros hiperfletidos, tetraparesia espástica.

Paciente apresentou convulsão tônico-clônica pela manhã com pupilas permanecendo contraídas, não respondendo à quantidade de luz que chega aos olhos. Punção venosa central para Hidantalização por ser uma medicação potencialmente vaso irritante e sua infusão.

Transferido para UTI por iminência de comprometimento respiratório agudo. Após oito dias sob cuidados intensivos, foi encaminhado para enfermaria para continuidade da assistência e cuidados. Paciente não ativo, desacordado, não reagindo ao chamado. Em decúbito dorsal, emagrecido, traqueostomizado, rigidez espástica de membros superiores e inferiores, adotando postura de decorticação, normocorado, normohidratado, anictérico.

Paciente com dieta oral por sonda nasogástrica. Paciente perdeu total autonomia, não verbaliza, não deambula, torporoso, só responde a estímulos de dor.

Quanto aos antecedentes familiares o mesmo não tem histórico de doenças neurológicas na família. Procedente de município do interior do estado, mora com os pais no meio rural.

Após alguns meses na enfermaria apresenta quadro estável, portanto, programado alta e possível acompanhamento do programa de assistência domiciliar “Melhor em Casa”. O mesmo se beneficiará de acompanhamento médico domiciliar, fisioterapia para reabilitação respiratória e motora, além de cuidados em Lesão por pressão trocantéricas bilaterais. Parecer do médico do programa foi favorável para uma possível inclusão. A inclusão será realizada após avaliação do domicílio do paciente e do seu cuidador.

Seu genitor e acompanhante solicitou permissão para visita de familiares em maior número para juntos celebrarem o aniversário do paciente. A entrada das visitas foi supervisionada. Os irmãos menores de idade também participaram, mas receberam EPIs e permaneceram por pouco tempo na unidade de internação. Esta ação teve como objetivo promover momentos de estreitamento dos laços sócio afetivos, contribuindo para que se renovem no propósito de ofertar o cuidado ao paciente e sua possível reinserção no lar, em caso de alta, com apoio da rede familiar.

Ao longo da internação, os pais do paciente se separaram, contudo mantiveram o cuidado e acompanhamento junto ao paciente. Assim como as irmãs mais velhas.

Quadro 01: perfil social do participante do estudo

Variáveis

Status

Paciente portador de HIV

Sim

Adesão ao tratamento

Sim

Procedência

Interior do estado (Presidente Figueiredo)

Reinternação

Não

Orientação sexual

Homossexual

Acompanhado

Por pai e mão

Grupo familiar

5 pessoas

Tipo de família

Nuclear

Renda mensal

Até dois salários mínimos

Tipo de habitação

Alvenaria

Saneamento básico

Sim

Grau de instrução

Médio completo

Como chegou ao hospital

De ambulância

Fonte: prontuário eletrônico do paciente

Devido à demora na decisão em ajustar o domicilio para a alta hospitalar, o mesmo apresentou febre e com isso foi realizado hemocultura com antibiograma com resultado positivo para Staphylococcus epidermidis sensível aos betalactamicos de espectrtro estendido. Também foi realizado exame de cultura de secreção catarral de aspirado traqueal com resultado positivo para Pseudomonas aeruginosa resistente aos Betalactamicos de espectro estendido.

Após termino do ciclo com antibióticos para tratar a infecões intra-hospitalares, o paciente voltou a apresentar febre. Novamente foi realizada a coleta de material (sangue) para cultura o qual deu positivo para Klebisiella pneumoniae resistente aos carbapenemicos.

Paciente acamado, internado durante longa data segue o com sequelas neurológicas, em estado de coma vigil, traqueostomizado, com rigidez em membro superior, com tetra espasticidade, em posição de decorticação, abertura ocular mediante estímulo, com funções fisiológicas presentes, sem alteração do hábito intestinal.

Paciente com infecções hospitalares de repetição iniciou quadro de taquicárdia, hipotensão, com hematúria macroscópica observada em fralda, bexigoma e anúria há aproximadamente 12h. Solicitado sondagem vesical de alivio, analgesia e monitorização.

Paciente com piora da dessaturação evoluindo com hipotensão refratária a volume e com duas paradas cardio-respiratorias-PCR revertida, porém sem sucesso na terceira parada. Constado óbito 45 minutos após a última parada.

DISCUSSÃO

O paciente participante deste estudo tem histórico de imunossupressão por ser portador do vírus HIV. O mesmo deu entrada no pronto atendimento do hospital referência para infectologia com quadro febril e após realização de sorologia para dengue, o mesmo veio positivo IgG, ou seja, o mesmo estava na fase crônica e/ou convalescente ou já teve contato com a doença em algum momento da vida.

Em relação a co-infecção de arboviroses com HIV, poucos estudos têm sido publicados e a maior parte deles relacionados à infecção por dengue. Diante disso e devido aos surtos sazonais de arboviroses no Brasil e a magnitude da problemática de pacientes convivendo com HIV/AIDS, ainda há contribuir para o conhecimento da apresentação clínica dessas doenças14, 23,24.

O participante deste estudo de caso também apresentou um quadro clinico de diminuição de força em Membros inferiores-MMII ascendendo de forma podo-cranial, atualmente com perda de força (grau 3), paresia presente até o nível subcostal acima da linha umbilical (à nível de T8), e hiperflexia patelar e até déficit de deglutição que posteriormente fechou-se o diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré pós infecção por dengue.

A origem da Síndrome de Guillain-Barré (SGB) ainda é desconhecida, contudo, frequentemente aparece uma ou duas semanas após uma infecção respiratória ou gastrointestinal ou outro estímulo imunológico que cause uma resposta autoimune exacerbada, como o que acontece em casos de infecção por arbovirus14, 15, 21.

Outro agravante foi que em virtude do aparecimento da parestesia de membros inferiores, foi realizada sorologia para Citomegalovirus-CMV o qual deu positiva. Aberto investigação para averiguar o acometimento neurológico por CMV ou outro vírus da família Herpesviridae.

O Citomegalovírus (CMV) pertence à família do herpesviridae e estima-se que 50% a 80% dos adultos estejam infectados com o vírus. A imunossupressão prolongada pode levar à replicação descontrolada e ao aparecimento   de   doenças   graves, e   os   pacientes   infectados   com   o   vírus   da imunodeficiência humana (HIV) constituem um importante grupo de risco17,18, 22.

O paciente participante deste estudo, além de desenvolver duas co-infecções, também adquiriu, por ser um paciente de longa permanência em ambiente hospitalar, infecções nosocomiais de repetição por Staphylococcus epidermidis, Klebisiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa e outros. Tal agravante, juntamente com o quadro clinico causado pela infecção da arbovirose e a Síndrome de Guillain-Barré e a Citomegalovirose deu início a um quadro de taquicardia, hipotensão, piora da dessaturação evoluindo com hipotensão refratária a volume e paradas cardiorrespiratórias -PCR não revertida.

As infecções intra-hospitalares são consideradas uma dos agravantes que tem elevado as taxas de mortalidade, principalmente ocorridas em unidades de terapia intensiva-UTI´s estão associadas a elevada morbidade e mortalidade, além de alto custo. A análise desses aspectos pode contribuir para a otimização de recursos financeiros relacionados19, 20, 27.

Elas também são consideradas um dos maiores desafios a serem vencidos pelos profissionais de saúde, visto que, estes problemas relacionam-se diretamente ao aumento da taxa de mortalidade, elevação do tempo de hospitalização e o maior custo na assistência em saúde. Além disso, pode-se dizer que a IH torna-se um fácil caminho para a seleção e disseminação de microrganismos multirresistentes.

CONCLUSÃO

Conclui-se que o agravamento do quadro clinico do paciente participante deste estudo de caso pode ter sido em virtude da infecção por HIV e as outras co-infecções. Mas, as informações existentes no prontuário eletrônico deixam bem evidente que a longa permanência do mesmo em ambiente de internação contribuiu para o aparecimento de infecções relacionadas a assistência à saúde e isso pode ter sido a causa do óbito. Há uma eminente necessidade de haver políticas internas para a disseminação de informações relacionadas a esta temática. Talvez, com isso, haja maior adesão das práticas de biossegurança e comportamento em ambiente hospitalar por parte da e equipe assistencial. Também o uso de tecnologias educativas no processo de ensino-aprendizagem em saúde, pode ser considerado essencial na formação de profissionais e melhoria da qualidade dos serviços de saúde. O principal objetivo dessas ações deve ser centralizado na modificação de comportamentos inadequados e ineficientes à excelência dos procedimentos na área de saúde. Portanto, a utilização das tecnologias educativas na área da saúde pode resultar no maior cumprimento de protocolos de prevenção e de controle das IH, assim como, no maior comprometimento dos profissionais envolvidos nessas ações.

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